Hoje, você conhece a história da Maria Assunção Patrocínio, a Dona Fia
Presidente da ABEV – Associação Comunitária Bela Vista
Maria Assunção Patrocínio, a Dona Fia, é natural de Pará de Minas, e com muita tranquilidade descreve sobre sua infância. Filha de Maria da Concebida, Dona fica, conta que a mãe ficou viúva aos 25 anos.
Seu pai morreu, quando Dona Fia tinha 6 anos, e por isso tem poucas lembranças: “Praticamente não me lembro dele, mas tem duas coisas que não saem da minha memória, ele tinha uma mula cega pintada, e eu sempre estava numa carroça com ele, quando lembro a presença dele é muito forte. Fui uma criança muito feliz, apesar de uma infância muito pobre, a gente tinha toda liberdade para brincar, para fazer as coisas que sempre quis. Com a morte do meu pai, fomos morar com minha avó materna, minha mãe começou a trabalhar, mas eu nunca achei que essa vida fosse ruim”.
Dona Fia ressalta que os ensinamentos da Avó serviram como aprendizado, uma verdadeira capacitação para poder fundar e lidar na Associação: “Minha avó ensinou que a gente era pobre, mas, não precisava pedir, mendigar. Ela falava que passar falta das coisas não era passar fome, se você tivesse o arroz e uma outra mistura, você passava falta daquela coisa, mas, você tinha como se alimentar. E esse aprendizado serviu para mim quando comecei aqui no Restaurante. Eu via as crianças passarem por aquele mesmo trajeto que passei e eu não queria aquilo para eles, também não queria ver eles mendigarem. Eu falava se alguém falar que você é pobre vocês me contam. E foi assim que a gente começou a servir a nossa primeira refeição uma vez por dia”.
A história do Restaurante da Criança começa em 1988 quando Dona Fia muda para o bairro Recanto da Lagoa. Presenciando junto com os outros moradores as necessidades do bairro, Dona Fia, com a ajuda de grupo de senhoras, começou a servir a sopa para as crianças: “A gente nunca trabalha sozinha, sempre foi com parceiros, voluntários, todos muito bons. Igual eu falo Dona Fia é sequência, então não é uma pessoa, somos várias pessoas unidas num único objetivo. Na época que mudei aqui para o bairro, eu e a outra Dona fia, pensamos em fazer a sopa, no fim de tarde para dar as pessoas. Com isso o Nelson que era dono de um bar, emprestou um espaço que ele tinha para fazer essa refeição. Eu também falo, que o Restaurante da Criança, foi criado com a Escola João Ferreira, foi uma coisa impulsionada, pelas mulheres, do bairro, nos unimos para provar que um pobre tem condições de ajudar a outro pobre”.
Com o passar dos anos e o desenvolvimento do bairro, Dona Fia, percebeu as novas necessidades do bairro foi quando surgiu a oportunidade de ampliar as ações: “Quando fez 10 anos as coisas já estavam mudando, a gente continuava servindo as refeições, além das crianças os pais também vinham para comer. Foi quando pensamos e criamos o projeto Pequeno Cidadão, para ajudar as mães a mudarem de vida. Eu ficava com as crianças, no horário que eles não estivessem na escola, para as mães trabalhem, e com isso, hoje, o projeto é reconhecido pela Secretaria. E o que antes era matar a fome, hoje é uma questão de segurança. Hoje as crianças ficam aqui para ter mais estudo, ter uma condição de vida melhor, e a mãe poder trabalhar com segurança.”
Como toda uma dinâmica de dona de casa e coordenadora do Projeto, Dona Fia, conta que tentou não misturar as coisas: “Cada hora eu dividia uma parte, eu não podia misturar, a Dona Fina dona de casa, do Restaurante da Criança e ainda a Dona Fia que era servente escolar na Escola Fernando Otávio, até hoje me pergunto como eu dava conta?!. Mas fico muito satisfeita de estar há mais de 30 anos nessa função. Quando a gente faz um trabalho voluntário a gente pensa que está ajudando o outro, mas estamos ajudando a nós mesmos. Hoje posso falar que sou uma pessoa muito realizada, esse mês completo 79 anos, e sou muito feliz nesse trabalho e fico querendo trabalhar toda hora”.
Sobre o reconhecimento do seu legado, Dona Fia, conta que recebeu com muita alegria a notícia de ser uma das Mulheres Notáveis da CDL Pará de Minas: “Eu recebi na maior surpresa. Perguntei para as minhas netas o que era, porque eu não sou empresária, não sou lojista, não podia ser eu!? Eu não me sentia merecedora da homenagem, mas eu pensei, se eles estão me homenageando eu fico muito feliz. Estou recebendo essa homenagem, em nome de todas as mulheres da ABEV, porque sempre trabalhou muitas mulheres aqui, e todas com um desafio muito grande de vencer e fazer as pessoas vencerem. Então fiquei muito feliz de ser essa pessoa escolhida”.
E Dona Fia deixa o ensinamento: “Não tenha medo de se jogar, de sempre sonhar alto. Eu uso um lema muito forte que aprendi: ‘Quando você almejar alguma coisa, almeja uma montanha bem alta, com o pico mais alto para você dar o salto, porquê se você não alcançar a meta você chega até na metade’. Então lute por todos seus sonhos, sem medo e com muita fé em Deus”.